A literatura criada no ambiente e contexto de um computador, independente ou em rede, é isso, mais aquilo e ainda aquilo outro. Diria mesmo que não é literatura, apenas na medida em que também é. Nós, leitores e autores, estamos tateando o que vêm por aí, descobrindo possibilidades de criação, produção e distribuição de textos e histórias. Estamos, no momento, diante de novas formas de ler e narrar abertas pelas tecnologias digitais.
Não estou falando de blogs nem e-books, um texto literário pode ser publicado em vários suportes, mas isso não o torna “literatura eletrônica” ou “narrativa digital”. A ideia aqui é a de uma literatura que aproveita os recursos, contexto e possibilidades oferecidos pela tecnologia digital já na sua concepção, ou seja, que “nasce digital” (boa dica é o site da Eletronic Literature Organization).
Geralmente são criações que misturam várias mídias, muitas são interativas, quase todas utilizam links e hipertextos como, por exemplo, games, e-books interativos, ciberliteratura, ficção e poesia móvel (telefonia celular), wikiliteratura, blognovela, fan fiction, crowdsourcing (twitter), vooks (livro e audiovisual), computer generated literature, histórias em quadrinhos e fotonovelas com realidade aumentada, chatbots (chats com personagens), entre outros ( muitos exemplos serão dados nos próximos posts, confiram!).
O fato é que temos esse desafio nas mãos, contar uma história com texto, som, imagem, compartilhamento de arquivos, redes sociais, uso de tablets e mais uma série de recursos. Talvez essa nova arte narrativa venha a ser uma produção coletiva, uma obra que une o escritor, o programador e o artista gráfico. Ninguém sabe. Afinal, não é momento de certezas, o caminho está só começando. Sabemos que o aparecimento de uma nova tecnologia costuma trazer também uma nova arte, uma nova linguagem, como aconteceu com a fotografia e o cinema. Ao mesmo tempo, uma tecnologia não cria automaticamente um experimento autoral ou estético, é possível levar um bom tempo até perceber como uma ferramenta ou técnica deve ser usada criativamente, como torná-la parte de uma nova linguagem, sem falar da complexidade de um meio como o digital.
A boa notícia é que existe um vasto campo a ser inventado, e vale lembrar que só se inventa errando, tentando, experimentando, quebrando a cabeça, criando sem medo. A brincadeira não é acertar de primeira.
O desafio está lançado e aceito. A hora é essa. Oba!