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Jogos: o que eu sei

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Não sou uma jogadora, não saberia manter uma conversa de 15 minutos com jogadores habituais sobre os últimos lançamentos, os jogos clássicos, os motivos do sucesso de candy crush, ou a jogabilidade do GTA. Ao contrário, sou de uma geração nascida nos anos 70 que, junto com as anteriores, ainda enxergava o videogame como um entretenimento raso, geralmente violento, mas muito útil pra fazer seu filho ficar quieto por uma hora seguida. Alguns anos atrás descobri que o mundo dos jogos eletrônicos é bem maior e interessante do que imaginava.

Meus olhos se abriram por várias razões, uma delas foi a publicação de Hamlet no Holodeck, da pesquisadora Janet Murray, que se tornou referência no campo da narrativa interativa. A abrangência de seu estudo, que relaciona literatura, cinema, vídeo e linguagens digitais, enfatizou a essência multidisciplinar e interativa das novas mídias, entre outras características, e apontou para o nascimento de uma linguagem própria do meio digital, uma linguagem expressiva feita sob medida para essa nova tecnologia – o jogo eletrônico.

Ao mesmo tempo, descobri profissionais escrevendo narrativas de jogos (um deles é o Arthur Protásio), exposições como A Arte dos Videogames no Smithsonian American Art Museum (Washington, EUA) que apresentou quarenta anos dos videogames como uma mídia artística, documentário no Netflix sobre a criação de jogos independents, Indie Game: the movie, e o reconhecimento do National Endowment for the Arts, orgão do governo federal do EUA, que passou a admitir jogos eletrônicos entre os projetos artísticos financiáveis.

Além disso, aprendi que há diferentes gêneros, orçamentos e intenções. Jogos independentes, autorais, na fronteira com o cinema e outras artes. Fui também algumas vezes no FILE, festival de jogos e obras interativas no Oi Futuro (RJ), e pude conhecer muitos jogos feitos por artistas, outros pensados para educação (não chatos!) e vivi a experiência inusitada de ficar duas horas sentada completamente imersa no deserto de Journey.

Tudo isto pra entender o que é claro pra muita gente – mas nem todo mundo reconhece – o valor cultural e artístico dos jogos, assim como a expansão criativa dessa linguagem que se desenvolve de muitas formas.
Fuçando um pouco aqui e ali, encontrei dois jogos que chamaram minha atenção e que parecem se colocar na fronteira com o cinema, por conta do cuidado na produção, escolha dos atores e construção narrativa, são os do diretor David Cage: Heavy Rain e Beyond: Two Souls.

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A história de Heavy Rain é um thriller dramático estilo noir, centrado em quatro protagonistas envolvidos com o mistério do assassino do Origami, um serial killer que usa longos períodos de chuva para afogar suas vítimas. Heavy Rain foi um sucesso crítico e comercial, ganhando múltiplos prêmios Game of the Year e vendendo mais de 3 milhões de cópias.

Beyond: Two Souls é um jogo de suspense que fala do que acontece depois da morte. O jogador controla a personagem Jodie Holmes, interpretada por Ellen Paige, numa viagem para descobrir o significado de Aiden, uma entidade sobrenatural que está ligada a Jodie desde seu nascimento.

Beyond: Two Souls fez parte da seleção oficial de 2013 do Festival de Cinema de Tribeca, o que marca a segunda vez que um videojogo é reconhecido pelo festival de cinema, o primeiro foi L.A. Noire de 2011.

Pra quem gosta de cinema e jogos, vale conferir. Eu vou.

Fernanda Gentil
Doutora em Literatura, publicou um livro de contos, dois romances e uma web novela. Fundou a editora Circuito. Faz pós doutorado sobre narrativas digitais. Cria e escreve programas de TV.

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