Em setembro de 2013, a revista americana Wired chamou a atenção para o crescente número de arquivos sonoros que estavam sendo carregados na web. O título da matéria assinada por Clive Thompson era quase uma convocação: “Listen up! Let’s make the web a louder place”. Um dos destaques do texto é o London Sound Survey, e é sobre ele que falo nesse post.
O London Sound Survey é uma intensiva e crescente coleção de gravações sonoras de lugares, eventos e dia a dia da capital inglesa, sob licença Creative Commons. O site é uma iniciativa de fôlego e praticamente solitária de Ian Rawes, criador e responsável pelo portal, que oferece sons de vários territórios e épocas de Londres.
Há sons da BBC Radio Broadcasts entre as décadas de 20 a 50, sons dos canais e rios, de ações cotidianas, de atmosferas, sons de fundo e incidentais de toda Londres. A lista é imensa e só cresce. A página abriga ainda trabalhos realizados por outras pessoas, como o Andre’s London. André Louis é cego e captura sons da cidade e das coisas. Ele diz que o som é o que cerca sua vida e, por isso, grava todo tipo de som para mantê-los para posteridade.
No sound survey há também referências históricas textuais sobre o som da cidade desde o século XI até o século XX. Trata-se de uma coleção de descrições a partir de fontes primárias, como autobiografias, diários e leis, bem como romances retratando determinado período. Há ainda um acervo sonoro de gravações originais da rádio BBC desde os anos 1920 aos anos 1950. Eles trazem à vida as vozes das ruas e as circunstâncias da época. Há ainda mapas antigos da cidade de Londres mostrando as mudanças na ocupação do solo.
Depois de gravar mais mil fragmentos do som urbano de Londres, Ian Rawes vem notando a tendência de que enquanto os zumbidos dos carros e aviões crescem, a quantidade de vozes humanas ouvidas na rua vem diminuindo. Rawes diz na Wired que talvez isso se deva à chegada de novas lojas que afugentam os vendedores ambulantes. Aliado a isso, sua suspeita é a de que sociedades mais ricas e organizadas tendem a reduzir os sons em espaços públicos. Estando certo ou não, Rawes e tantos estão fazendo da escuta uma forma de compreensão do mundo.
Crédito da imagem: Portlandvillage, Wikimedia Commons