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Jornalismo imersivo

A realidade virtual, mesmo não sendo uma tecnologia nova, apenas nessa década vem se mostrando uma alternativa econômica viável após o lançamento de dispositivos como, por exemplo, o Rift headset, da Oculus; o Gear VR, da Samsung, e o Cardboard, do Google – equipamentos chamados de head mounted display. 

Além desses equipamentos para uso individual, as câmeras que filmam em 360 graus se multiplicam no mercado. O jornalismo associado à realidade virtual vem sendo chamado de jornalismo imersivo.

Realidade virtual existe como produto tangível desde 1962 com o Sensoramade Morton Heilig. A cinemática em realidade virtual (RV) replica um ambiente real ou imaginário, possibilitando que o usuário se sinta como se estivesse lá realizando interações com esses mundos. O conceito de presença em realidade virtual se refere a essa ilusão de se estar fisicamente presente em um mundo não físico, experiência possível pelo vídeo esférico (360) e o uso do head mounted display (HMD) – que são os dispositivos específicos de áudio e vídeo para RV, como esses da imagem abaixo.

As plataformas do Google, Facebook e Vimeo já aceitam vídeos em 360, o que não deixa de ser uma forte aposta dessas corporações no formato. Os vídeos em 360 graus e em realidade virtual permitem que o usuário vivencie e interaja com o conteúdo, em vez de apenas sentar e assistir. Com eles, os espectadores desfrutam de uma visualização imersiva.

Ao acessar um vídeo em 360, o usuário pode girar a interface e ter uma ideia mais ampla daquele ambiente. Aí um dado importante: a tela passa a ser uma interface. Para ter a experiência de presença proposta pela realidade virtual é preciso usar algum head mounted display

Na experiência de vídeo em 360 ou cinemática em RV, cada pessoa pode escolher para onde quer olhar. Saímos do ângulo frontal para a imagem esférica. O registro visual deixa de ser um frame ou uma visão frontal para ser o registro em 360 graus, mudando totalmente a forma de representação do espaço. Aí pode estar um dos grandes potenciais dessa ferramenta para o jornalismo no intuito criar narrativas interativas para informar, educar e, porque não, divertir.

A Associated Press (AP) está encarando a produção de vídeos 360 como algo básico na produção jornalística. A organização distribuiu para seus repórteres kits com uma câmera Nikon 360 e microfones Lavalier para gravar entrevistas. Os jornalistas não tinham necessariamente experiência significativa em vídeo e receberam um dia de treinamento.

Na página da AP no facebook há dezenas de vídeos em 360 publicados por seus jornalistas. A BBC e o The Guardian também já fazem experiências em realidade virtual. Um dos projetos mais relevantes de cinemática em realidade virtual do The Guardian é o projeto “6×9, a virtual experience of solitary confinent“, já comentado aqui no Bug 404. As experiências da BBC em realidade virtual podem ser acessadas na página Taster,  que é onde a BBC publica experimentos e ideias em gestação. 

Há iniciativas independentes como a do fotojornalista Karim Ben Khelifa.  Em seu projeto The Enemy (http://theenemyishere.org/), ele cria um ambiente de realidade virtual para refletir sobre regiões em conflito. O projeto conta com uma instalação e um aplicativo ainda não lançado. Em uma das experiências, o participante caminha lado a lado de combatentes que são rivais no conflito entre a Palestina e Israel. O participante pode ainda fazer parte da entrevista com os dois soldados num ambiente que simula uma sala como se todos estivessem fisicamente presentes. Os olhos e a posição corporal dos entrevistados se ajustam à localização do participante fazendo com que essa técnica clássica do jornalismo – a entrevista – assuma uma nova dimensão, revigorada pela presença virtual dos oradores e do usuário, que dividem o mesmo ambiente.

Com mais de 15 anos trabalhando como fotógrafo de guerras, o objetivo de Karim Ben Khelifa é fazer com que as pessoas pensem de maneira mais profunda sobre esses conflitos. O projeto é um salto a frente das formas tradicionais de representação da Guerra, na medida em que usa uma tecnologia que abre possibilidades mais amplas de interação e por fazer com que combatentes falem sobre si mesmos, abrindo caminho para empatia e desmanche de visões maniqueístas.

O programa Fantástico, da TV Globo, recentemente lançou a série FANT360 dedicada a filmagens com essa nova tecnologia. Experiências em realidade virtual se multiplicam em várias áreas. Equipamentos acessíveis já estão disponíveis e não são poucos os usuários que aproveitam os recursos da realidade virtual para jogos ou para se sentirem como se estivessem dentro da quadra assistindo uma partida de basquete ou para assistir filmes pornô – aliás um mercado que já entendeu bem o potencial dessa ferramenta.

A realidade virtual ainda está na infância: a indústria pesquisa e lança novos equipamentos a todo momento enquanto realizadores estão aprendendo sobre o melhor uso de câmeras, microfones e desenvolvendo técnicas de filmagem e pós-produção.

Qual o potencial do uso de realidade virtual no jornalismo? Só saberemos experimentando a linguagem. É isso que nós do Bug 404 estamos fazendo.

Referências:

– Leandro Della Croche, Leonardo Henrique dos Santos, Danilo Ramalho da Silva, Michel Henkes Salerno, Josivan Fernandes de Lima, Dalve Rodrigues da Silva y Juliano Schimiguel (2016): “Realidade virtual – A viabilidade da imersão total na atualidade”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (julio-septiembre 2016).

      http://www.bbc.co.uk/rd/blog/2016-11-virtual-reality-production-tips

      https://www.wired.com/2017/02/shoot-360-video/

      How The Associated Press Trains its Journalists To Shoot in 360 Degrees

  Youtube  (criadores de conteúdo):

https://creatoracademy.youtube.com/page/lesson/sphericalvideo

https://creatoracademy.youtube.com/page/lesson/360-production?cid=360video&hl=pt-BR ; https://www.youtube.com/channel/UCzuqhhs6NWbgTzMuM09WKDQ

 

Claudia Holanda
Cantora, compositora e jornalista. Faz atualmente doutorado na UFRJ sobre paisagem sonora. Se interessa por música, comunicação, mapas sonoros e formas de politizar as tecnologias.

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2 comments

  1. OI Claudia, ótimo artigo! Sem dúvida essa é uma fronteira para onde o jornalismo deve caminhar. O potencial criativo e o poder de mobilização é enorme, mas tem a equação do custo de produção e alcance de audiência talvez seja o que está na mesa hoje em dia.

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