Autoria: Sandra Gaudenzi
Originalmente publicado no Docubase
Tradução por Leonardo Coelho
*este post faz parte de uma parceria do MIT Open Documentary Lab com o BUG. Nela, iremos traduzir oficialmente as playlists do projeto Docubase, compêndio de sugestões de conteúdo transmídia feita por profissionais e pensadores da área.
Sandra Gaudenzi começou sua carreira como produtora de televisão, mas logo seguiu rumo à televisão interativa, tendo começado a ensinar a respeito a partir de 1999.
Sandra é uma das criadoras do I-docs, uma conferência que ela e outros co-iniciaram em 2011 durante a escrita de sua tese de PhD sobre documentários interativos na Universidade de Goldsmiths. Ela é a Diretora Criativa do I-docs.org, faz curadoria de conferências e treinamentos profissionais, além de consultorias de trabalhos interativos independentes. O que a fascina é como a tecnologia digital pode abrir novos caminhos para documentar a realidade e como essas explorações podem nos empoderar para ativamente a mudar nosso mundo, além de como entendê-lo.
O Documentário Vivo
Eu não vejo a tecnologia interativa como uma ferramenta, mas como um processo que traz cultura estética e mudanças políticas. Dentro desse contexto, docs interativos (idocs) não estão apenas retratando a realidade através de meios digitais; eles a estão modelando de modo tácito, criando um novo “contrato” com a audiência ao convidá-los a “fazer parte”. A mudança acontece quando: 1 – ao participar ativamente, o usuário,o idoc e o mundo são conectados à uma corrente de causa e efeito. O idoc então se torna algo vivo, ele tem comportamentos, eles dependem de agentes externos e eles mudam com o tempo . É ai que tudo isso se torna fascinante, porque em cada ser vivo, o mais importante passa a ser o que ele pode fazer e não apenas explicar o que eles significam.
Essa playlist é um tributo aos idocs que tiveram impacto em mim ou no campo. É um tributo à mudança, seja ela grande ou pequena.
_Moss Landing – 1989

Um dos primeiros projetos documentais a ser chamado de interativo (idocs), essa obra tenta criar e explorar uma seção da vida da Comunidade de Moss Landing através de uma coleção de vídeoclipes hyperlinkados
provavelmente o primeiro projeto chamado de idoc, esse é o resultado da exploração Laboratório Multimídia da Apple, criado em 87, sobre como a interface digital pode criar efeito de espaço. O efeito de “hot spots” criam a possibilidade de uma hyper-figura, um primeiro passo rumo aos mapas interativos, mas também o começo de interfaces espaciais e de navegação.
_The LoveStory Project

Essa experiência universal é explorada através de lentes multiculturais nesse idoc de dados sobre o amor.
Um dos primeiros projetos de Florian Thalhofer no software Korsakow, a história é um rebotalho de histórias e pensamentos sobre o amor. Uma vez que o tópico é vasto,os links entre uma pessoa e outra são razoavelmente intuitivos
Minha percepção: esse idoc me fez perceber que as navegações hyperlinkadas forçam o interator a tomar decisões que ele talvez não queira. Nesse projeto, cliques são explorações emocionais ao invés de opções narrativas, então funciona melhor pra mim.
_The Whale Hunt

Uma caçada de 9 dias à uma baleia no norte do Alasca contada através de um mosaico de fotos interativo.
Trata-se de um experimento narrativo que tirou uma foto a cada 5 minutos, aglomerando todas essas fotos em um quadro digital navegável. O autor, Johnathan Harris, explora como a visualização de dados pode ajudar tanto na leitura macro quanto a micro da história dele caçando baleias com uma família de esquimós. Navegação cronológica também é possível, assim como por cor, emoção e personagens. É uma mudança estética e conceitual nas interfaces narrativas.
_Rider Spoke

Esse documentário interativo manda seus participantes explorar a cidade a noite de bike, gravando sua rota e descobrindo lugares para compartilhar histórias íntimas com o projeto e futuros participantes.
Uma exploração da cidade que une narrativa participativa, tecnologia mobile e ciclismo. Um híbrido espacial onde o público e o privado se interligam. Um exemplo de como narrativas localizadas podem se transformar em auto-explorações que mudam nossa perspectiva do mundo físico ao nosso redor. Foi um momento “eureka” para mim.
_Sputnik Observatory

Nessa interessante e inspiradora base de dados interativa, usuários podem explorar uma miríade de ideias de A a Z ao navegar em entrevistas com experts e criar seu próprio caminho dentre o que há de mais interessante sendo pesquisando na ciência.
Um ecossistema de entrevistas em vídeo com pensadores líderes nas artes, ciência e tecnologia, cobrindo uma variedade de tópicos,. A representação gráfica da jornada do usuário – que fica no canto inferior da tela – é uma das primeiras interfaces que eu já vi que sucede em navegar uma grande base de dados de entrevistas e dá coerência ao projeto.
_Dreams of Your Life

O quão só é você? Explore esse tema e mais em “dreams of your life”, uma obra interativa com um interlocutor invisível que faz perguntas que trazem a tona perguntas complexas e, as vezes, reflexões bem difíceis sobre a vida.
Inicialmente proposta como um webdoc feito paralelamente a um longa documental, esse projeto é um diálogo, um teste psicológico, um monólogo interno, uma confissão, e uma prova de que a intimidade e a instrospecção são possíveis nos webdocs. Quando a mudança vem através de um momento de reflexão.
_Gaza/Sderot

“Gaza/Sderot” documenta a resiliência humana ao capturar histórias das cidades vizinhas de Gaza e Sderot, na fronteira do conflito Palestina_Israel
Esse é o primeiro webdoc que claramente diz “Interface é conteúdo”, de acordo com Alexandre Brachet, da empresa Upian. Esse projeto adquire sentido e cria impacto justamente através dessa interface.
_Highrise: One Millionth Tower

Em “Highrise: One Millionth Tower,” a cineasta Katerina Cizek, os residentes de um complexo de apartamentos em Toronto e um grupo de arquitetos usaram o webGL para reimaginar um complexo residencial, criando um documentário interativo que captura as aspirações da comunidade.
A NFB (national film board of Canada) e Kat Cizek mostram que webdocs são uma forma narrativa madura. O projeto guarda-chuva, chamado Highrise, constatemente experimenta com a forma criando novos espaços de reflexão e novos estilos de apresentação.
_CIA: Operation Ajax

Potencializado pela engine de um jogo, esse aplicativo para tablet casa a estética dos quadrinhos e cinema para criar uma experiência de leitura interativa. Operation Ajax tira a divisão entre quadrinhos e idocs, criando um novo gênero.
_Bear 71

Vídeos de segurança e banco de dados do Parque Nacional Banff, no Canadá, fazem parte do documentário ecológico “Bear 71”, que faz um comentário sobre a vida na era digital.
Uma narrativa em audio linear empoderada por uma interface visual interativa: enquanto a história acontece o usuário interage com um mapa gráfico em 3D, adquirindo uma aparente liberdade que é essencial pro decorrer da história. A novidade: usar a interface como uma ferramente para posicionar o usuário em uma emoção específica.
_Hollow

Nesse idoc, intitulado “Hollow”, a cineasta Elaine McMillion Sheldon colabora com os cidadãos do condado de McDowell, nos EUA, para contar a história do declínio populacional no país. A navegação baseada em rolagem cria uma história visual complexa que mantém integridade e cria curiosidade e “desejabilidade”.
_Fort McMoney

Explore a congelada cidade de Fort McCurray e o embaraçada rede de consequências provocadas pela mentalidade “fique rico rápido” dos habitantes desse game documentário que quebrou paradigmas.
Após ter criado “Prision Valley”, David Dufrense desenvolveu o docu-game a outro nível, como um afresco de uma cidade onde o usuário pode influenciar o rolar de uma história. A imersão é criada como jeito de explorar e o agenciamento como motivo de mudar a cidade através da participação.