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!F Bug Lab

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Entre 5 e 8 de setembro, tive a oportunidade de liderar com Sandra Gaudenzi o !F Bug Lab – uma versão do programa !F Lab de Sandra implementado há 5 anos na Europa. Como já dito aqui anteriormente, esse laboratório de desenvolvimento de projetos foi possibilitado por um projeto de pesquisa-ação financiado pela British Academy. Ao longo deste ano, participei como coach e pesquisador dos workshops do !F Lab na Europa e com a Sandra tratamos de desenvolver uma versão do programa adaptada à circunstância brasileira da Mostra Bug.

O !F Bug Lab contou com a participação e seis projetos e doze pessoas, que passaram pelo passo a passo da metodologia WHAT IF IT. Foram projetos de aplicativos, webdocumentários, docgame, realidade virtual e educação, com equipes com experiência e formação muito variada. Para a realização dessa versão do !F Lab, fizemos uma experimentação na metodologia que consistiu em inserir uma reflexão e exercícios que trouxessem a importância dos recursos entendidos em um sentido amplo.

Desde as pesquisas dos workshops na Europa, foi identificado o papel decisivo dos recursos não apenas no projeto de concepção e desenvolvimento, como na realização posterior.  Os processos de criação e produção de narrativas interativas e imersivas não estão consolidados. Trata-se de um ambiente de produção alto risco que requer a constante inovação.  Nesse sentido, fomos buscar princípios de orientação para algumas práticas do programa na teoria conhecida como Effectuation, bastante consolidadas no campo do estudo do empreendedorismo.

De uma maneira bem simples, Effectuation é o resultado de uma pesquisa sobre como empreendedores de sucesso tomam decisão e agem em ambiente inovadores de alto risco. Saras Sarasvhaty, uma psicóloga cognitiva, conduziu uma pesquisa para entender como eles se comportam diante do desenvolvimento de novos produtos. Ela identificou uma lógica de pensamento específica, a que chamou de effectual logic. Em termos gerais, eles projetam os fins possíveis com os meios disponíveis. É a partir dos recursos disponíveis – entendidos em um sentido amplo, como financeiros, habilidades, parcerias – que eles concebem, desenvolvem e produzem seus produtos ou serviços. Isso acontece dentro do que Sarasvhaty chama The Effectual Cycle: a expansão cíclica dos recursos em paralelo a redefinição dos produtos e objetivos.

Diferente, entretanto, das outras versões, o workshop começou com uma dinâmica baseada no que ficou chamado de Strategy Canvas, que, após uma curta apresentação da Effectuation, convidada os participantes a fazerem uma reflexão sobre os propósitos e características gerais do projeto e os recursos disponíveis: equipe, equipamentos, parcerias, financiamento. Na oficina, a cada passo dado, foi reforçada a necessidade desses recursos mapeados estarem em sintonia com a proposta geral do projeto. Assim, o workshop se dividia duas fases seguidas de forma cíclica (Strategy canvas e paper prototype), no intuito de reforçar a coerência entre recursos e o produto desenvolvido, seguidas de um pitch final para uma banca de avaliadores externos do mercado.

Em comparação com o !F LAB, os participantes do !F Bug Lab no Brasil se assemelhavam ao perfil das equipes dos primeiros !F Labs, praticamente do setor audiovisual e universidades.  Por isso, dos sete projetos, cinco apontaram a necessidade de conhecimento e habilidades técnicas – em particular de programação -, uma vez que vinham do audiovisual e planejavam produtos de documentário interativo, docugame ou aplicativo. Apenas dois projetos já tinham alguma forma de apoio financeiro para participar das oficinas. Esse quadro mostra a importância do apoio de consultores e técnicos de design e programação. O !F Bug Lab não contou uma fase de digital prototype, mas teve dinâmicas de consultoria técnica de voluntários especializados, entre outras coisas, em programação e design.

No final do !F Bug Lab, foi aplicado um questionário anônimo com os participantes sobre suas impressões da metodologia, em especial das diversas fases e suas relações entre si. O laboratório em geral foi muito bem avaliado. Em uma escala de Likert (0 a 5), dez pessoas (83%) apontaram avaliação positiva (4 ou 5) e sete (58%) marcaram avaliação máxima (5) para o Strategy Canvas.  E todas as pessoas (100%) deram uma avaliação positiva (4 ou 5), sendo que 10 (83%) apontaram avaliação máxima para o Paper Prototype.  O Strategy Canvas foi inserido para que reforçar a reflexão sobre os recursos, dentro da proposta e estratégia geral do projeto, e a sintonia entre esses e o protótipo concebido. Nesse sentido, como aponta o gráfico abaixo, quando perguntadas como avaliavam a influência do Canvas sobre as decisões do Paper Prototype, 11 (92%) das pessoas apontaram positiva (4 ou 5) e 7 (58%) deram avaliação máxima.

Esses resultados nos inspiram a seguir com as pesquisas e realizações de programas de desenvolvimento de projetos nesse campo inovador, baseado em novas versões aprimoradas da metodologia WHAT IF IT.

André Paz
André Paz é professor da UNIRIO, pesquisador, diretor e produtor. Faz pós doutorado sobre narrativas interativas (UFRJ) e dirige projetos de documentário interativo.