Autoria: Caspar Sonnen
Originalmente publicado no Docubase
Tradução por Marcus V G Rodrigues
∗Este post faz parte de uma parceria do MIT Open Documentary Lab com o BUG. Nela, iremos traduzir oficialmente as playlists do projeto Docubase, compêndio de sugestões de conteúdo transmídia feita por profissionais e pensadores da área.
Andre Deak trabalha como produtor multimídia na agência digital brasileira Liquid Media Lab. Os projetos do laboratório visam criar impacto e mudança social. Ele ensina histórias inovadoras no Departamento de Jornalismo da ESPM e é o coordenador do ‘Hybrid Formats Lab’.
Jornalismo Híbrido
Essa lista de reprodução inclui projetos que me fizeram entender que o jornalismo pode assumir diversas formas, mesclando-se a outros campos, como ativismo, marketing, videogames e narrativas. Quando algo assim acontece, chamo-o de “jornalismo híbrido”. O resultado pode ser grafite, infográficos, meios geolocalizados, intervenções artísticas nas ruas… Tudo pode caber, desde que uma parte seja baseada na premissa do jornalismo. Eu estava lá no começo da internet. Durante esses dias, esses eram os tipos de narrativas que todos sonhávamos. Aqui estão alguns projetos que mostro aos meus alunos e que sempre recebem a mesma reação: Uau!
River of Mud
Rio da Lama é um vídeo em 360º que retrata os sobreviventes do rompimento da Barragem da Samarco em Mariana, Brasil

Este vídeo “simples” em 360 ° me faz lembrar da primeira vez que vi essa tecnologia quando a CNN fez um vídeo em 360 ° no Haiti. Foi a descrição mais precisa do terremoto que destruiu todo o país. De maneira semelhante, o Rio da Lama retrata uma vila brasileira que foi destruída após o colapso da Barragem da Samarco – o pior desastre ambiental do país.
InfoAmazonia
InfoAmazonia fornece notícias, relatórios, dados e histórias crowdsourced em regiões ameaçadas da floresta amazônica.

Vencedor do Prêmio Google Social Impact em 2014, o InfoAmazonia é um ótimo projeto porque estabeleceu iniciativas como a criação de hardware para detectar a qualidade da água na floresta amazônica. Eles não apenas conseguiram dinheiro para criar esse hardware, mas também distribuíram essas informações diretamente para as pessoas que mais precisavam. Agora, os habitantes locais recebem um SMS quando a água é boa para ser consumida. Quando pensamos em jornalismo, raramente pensamos em criar hardware, mas aqui está um ótimo exemplo.
Filosofighters
Um jogo de luta livre entre filósofos famosos que conduz o usuário através da história do pensamento.

Filosofighters foi o primeiro sucesso brasileiro em “newsgames” e foi usado para ensinar filosofia. A ideia inicial do jogo foi esboçada em um guardanapo de papel durante um happy hour. Os criadores estavam rindo sobre Simone de Beauvoir jogando um sutiã em seu oponente ou Nietszche esmagando as pessoas sob um deus morto (todas estas estão na versão final do jogo). É realmente uma maneira divertida de dar aos alunos uma primeira impressão sobre filósofos famosos.
Fort McMoney
Explore a cidade congelada de Fort McMurray e a teia emaranhada de consequências alimentadas pela mentalidade de enriquecimento rápido de seus habitantes neste jogo documentário inovador.

Fort McMoney foi minha primeira experiência com um webdoc que usa uma abordagem de videogame. Foi alucinante, e ainda é um ótimo exemplo de como apresentar uma narrativa fragmentada com a estética do jogo.
Pop-up Magazine
Pop-Up Magazine é uma revista ao vivo, criada para um palco, tela e uma audiência ao vivo.

Este projeto mistura muitos idiomas: documentários, fotografia, rádio, performance e música – todos vivem no palco. Isso é jornalismo? Isso importa?
The Arctic 30
A imersiva instalação de áudio narra a captura de trinta ativistas ambientais no navio “Arctic Sunrise”, do Greenpeace, em uma réplica em tamanho real da embarcação.

Algumas das peças de jornalismo mais inovadoras estão sendo desenvolvidas por ONGs. Eles produzem um forte impacto no público, despertam a curiosidade e espalham a mensagem; eles têm o mesmo objetivo que qualquer jornalismo tradicional. Um grande exemplo é o Arctic 30 – jornalismo no formato de uma instalação. Eu mostro este projeto para meus alunos e eles me perguntam se isso é jornalismo. Gosto de responder citando o que Adrian Holovaty disse sobre o jornalismo de dados: “Quem se importa? Espero que meus concorrentes gastem seu tempo discutindo isso o máximo possível”.
Project Syria
O Projeto Síria usa novas tecnologias de realidade virtual para colocar o público “em cena” e experimentar a difícil situação das crianças sírias na guerra civil, de uma maneira verdadeiramente visceral.

Outro caso de uma instalação de arte jornalística e ativista. Nonny de la Penna, a madrinha da realidade virtual no jornalismo, atualizou o conceito de Realidade Virtual (VR) para mim. Pela primeira vez, eu pude sonhar em reconstruir lugares e colocar o usuário dentro deles. Castelos medievais, guerras, edifícios históricos… Qualquer lugar do mundo e a qualquer momento da história. Uma coisa é contar uma história ou mostrar um documentário sobre isso. Vamos dizer, Dachau: E se você pudesse entrar e conversar com as pessoas lá? Que impacto esse trabalho teria em você? Projeto Síria é o primeiro passo nessa caminhada; mostra-me o potencial da VR para histórias históricas.
Question Bridge: Black Males
Question Bridge: Black Males facilita conversas dentro da comunidade masculina afro-americana em divisões políticas, de classe, geográficas e geracionais.

Question Bridge é um projeto transmídia inovador que facilita o diálogo entre homens negros de diversas origens e cria uma plataforma para que eles representem e redefinam a identidade masculina negra na América. A inovação sobre este projeto não é apenas a plataforma online interativa, mas a ideia toda. Poderia ser transformado em uma ONG; poderia ser um projeto sem fim. Eu acho que os melhores projetos não são apenas produtos finais, mas algo vivo, atualizando e sempre crescendo. Está além do jornalismo; é um documento vivo.